E-text prepared by Pedro Saborano



 


 

 

 

ALBERTO PIMENTEL

 

 

CHRONICAS DE VIAGEM

 

 

PORTO

OFF. DE MOTTA RIBEIRO
215, RUA DE S. LAZARO, 215

 

 

 

 

CHRONICAS DE VIAGEM

 

 

 

 

ALBERTO PIMENTEL




CHRONICAS

DE

VIAGEM

 

 

PORTO
TYP. E LYT. A VAPOR DE EDUARDO DA MOTTA RIBEIRO
215—RUA DE S. LAZARO—215

1888

 

 

Ao conselheiro

Antonio Maria Pereira Carrilho

MEU ANTIGO E DEDICADO AMIGO

COMO RECORDAÇÃO DAS AGRADAVEIS EXCURSÕES

QUE JUNTOS FIZEMOS

NO VERÃO DE 1888

 

 

Offereço.

 

Alberto Pimentel.

 

 

{7}

CHRONICAS DE VIAGEM

I

Nas Caldas da Rainha

Na quarta feira de manhã, o comboio em que eu vim para as Caldas da Rainharegorgitava de viajantes.

E desde quarta feira não tenho visto senão chegar ás Caldas gente, gente,gente!

Os hespanhoes vão mandando os seus primeiros contingentes, e d'aqui a poucosdias chegará o grosso do exercito.

Principia a ouvir-se já esse infatigavel chalrar das hespanholas, que aolongo da alameda vão agitando a ventarola e... os quadris, passando como umbando de cigarras palreiras, seguidas de grande numero de cigarrinhas não menosgarrulas do que as suas mamãs de olhos pretos e os seus papás depatillas.{8}

Muitas caras de Lisboa: pessoas da alta finança... com dyspepsia; e dagrande roda... com rheumatismo.

Algumas pessoas da provincia, com ar de principes que viajam sobincognito.

Toda esta humanidade, mais ou menos espectaculosa, que passeia no Olympo daalameda, de tridente na mão, desce do alto da sua importancia ao razo dafragilidade do barro commum, logo que entra as portas da Copa.

Ahi, perante as aguas, são todos eguaes.

Portuguezas de chapeus de palha, hespanholas de mantilha, janotas do Chiado,anciãos venerandos, sentados em torno da casa das pulverisações, voltadoscontra a parede, de bocca escancarada, n'uma immobilidade paciente, deixampenetrar na garganta, em pequenissimas gottas de agua do tamanho de missangas,a aspersão d'esse hyssope therapeutico, que os ha de benzer... para oinverno.

Vêl-os alli e imaginal-os devotos romeiros que estão collando os seus labiosa uma nascente milagrosa de agua de Lourdes, é tudo uma e a mesma coisa.Reverentes deante da torneira, de bibe de borracha em volta do pescoço etoalha de algodão sobre os joelhos, parece entoarem mentalmente um hymno védicoem honra e louvor da agua das Caldas: «Gloria a ti nas torneiras, ó milagrosaagua, que borrifas{9} a minha garganta, descespelo meu esophago, penetras no meu corpo! Abenç

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