E-text prepared by Pedro Saborano



 


 

 

 

ALBERTO PIMENTEL

 

UMA VISITA

AO

PRIMEIRO ROMANCISTA PORTUGUEZ

EM

S. MIGUEL DE SEIDE

 

 

 

 

PORTO
LIVRARIA PORTUENSE DE LOPES & C.ª—EDITORES
119—Rua do Almada—123
1885

 

 

 

 

 

 

ALBERTO PIMENTEL

 

UMA VISITA

AO

PRIMEIRO ROMANCISTA PORTUGUEZ

EM

S. MIGUEL DE SEIDE

 

 

 

 

PORTO
LIVRARIA PORTUENSE DE LOPES & C.ª—EDITORES
119—Rua do Almada—123
1885

 

 

 

 


PORTO—IMPRENSA PORTUGUEZA—BOMJARDIM, 181

 

 

 

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UMA VISITA

AO

PRIMEIRO ROMANCISTA PORTUGUEZ

EM S. MIGUEL DE SEIDE

 

Eram onze horas da manhã. Acabava,na egreja de Santo Thyrso, a missa do dia.Para o largo do mosteiro vinham sahindoos ranchos dos homens e das mulheres docampo; algumas senhoras, poucas. A manhãtinha estado fresca, segundo me disseram,mas eu perdi a manhã, pela simplesrazão de ter perdido a noite no arraial daSenhora das Dôres, na Trofa, aonde condescendentementeme deixei arrastar. Quandosahi de casa, seguido pelo criado que levavade redea a garrana, o sol descobria.A consciencia de não ter nascido fadadopara cavallarias altas, obrigou-me a ir a{4}pé até um sitio que julguei propicio parame lançar a cima do sellim sem grandeconcurso de publico.

O criado dizia-me que não conheciabesta melhor do que a garrana.

—Muito fiel! accrescentava elle, inspirando-meconfiança, e descendo os estribos.

Para além da ponte, cavalguei.

Pareceu-me que effectivamente a garranatinha apreciaveis prendas de caracter;entreguei-me á sua lealdade, e posso asseverarque não foi desmentida, durante todoo dia, por nenhum incidente desagradavel.

É a besta mais honrada com que tenholidado. O criado tinha razão.

—A que horas estaremos em S. Miguelde Seide?—perguntei eu ao Bernardo doJoão de Deus, nome e alcunha do meu companheiro,para estabelecer dialogo, vistoque a garrana não podia, por um erro danatureza, conversar comigo.

—D'aqui a uma hora, n'este passo, respondeuelle. De Landim lá, é um instante.

Landim! repeti eu mentalmente.

Estava, pois, nos vastos dominios romanticosde Camillo, no proscenio floridodas suas Novellas do Minho, uma das{5}quaes se intitula O cego de Landim. Á minhadireita ficava Monte Cordova, de cujabruxa o eminente romancista escrevera acommovente historia.

O sol descobrira de todo; os seus raios,como flechas de oiro, cahiam sobre os campos,doirando-os. O calor principiava a serintenso.

O criado ralhou comigo amoravelmente.

Que se eu me tivesse levantado maiscedo, ponderava elle, não apanharia tamanhacalma. E depois podia ser que eu nãoestivesse habituado. Finalmente, accrescentáraque o sr. visconde, prevenido da minha

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