VIAGEM
AO
NORTE DO BRASIL
FEITA NOS ANNOS DE 1613 A 1614,
PELO PADRE
IVO D’EVREUX
RELIGIOSO CAPUCHINHO
PUBLICADA CONFORME O EXEMPLAR, UNICO, CONSERVADO NA BIBLIOTHECA IMPERIAL
DE PARIZ
COM INTRODUCÇÃO E NOTAS
POR
MR. FERDINAND DINIZ,
CONSERVADOR DA BIBLIOTHECA SANTA GENOVEVA
Traduzida pelo
DR. CEZAR AUGUSTO MARQUES
Cavalleiro da Real e Militar Ordem Portuguesa deNosso Senhor Jesus Christo, Cavalleiro eOfficial da Imperial Ordem da Rosa, Membro do InstitutoHistorico, Geographico, e Ethnographico doBrazil, da Sociedade Geographica de Pariz, e socio correspondente,effectivo, honorario e benemeritode muitas outras sociedades litterarias e scientificas,nacionaes e estrangeiras.
MARANHÃO—1874.
Maranhão.—Typ. do Frias, r. da Palma 6.
Á vós, ó meo querido Pae, levanto, dedico e consagro estepequeno, porem sincero monumento de minha saudade sempreviva, de meo extremecido amor, de meo eterno reconhecimento,e de minha dôr pungente pela vossa ausencia d’esteMundo.
Bem sei que Deos, querendo recompensar vossas virtudes,cêdo vos tirou do seio dos que muito vos extremeciam; masessa ideia póde sim consolar-me, nunca porem mitigar as vivassaudades, que me pungem a alma.
Aceitae, ó meo bom Pae, estas flores que, ainda uma vezbanhadas com minhas lagrymas, espalho sobre vosso tumulo,a lá do Céo, onde vos collocaram vossas virtudes e a MisericordiaDivina, abençoae o vosso filho
Cezar.
A introducção, que se vae lêr, escripta pela habil penna deMr. Ferdinand Diniz dispensa-me de escrever um prologo, e felizmentesou substituido de maneira muito vantajosa para osmeos leitores.
Realisei ainda uma vez um dos meos mais ardentes desejos,traduzindo e entregando á publicidade uma das obras raras arespeito da historia primitiva do Maranhão, que me tem merecidomuitas investigações e aturado estudo.
Dou-me por satisfeito d’esta e de outras fadigas, si d’ellas resultaralgum proveito ao publico menos, lido para quem fiz estatraducção.
Maranhão, 20 de outubro de 1874.
Dr. Cesar Augusto Marques.
No tempo de Luiz XIII, o magnifico Convento dos Capuchinhosda rua de Santo Honorato contava entre seos Mongesdois religiosos com o mesmo nome—o Padre Ivo deParis e o Padre Ivo de Evreux. O primeiro, advogado antigo,verboso, ardente na discussão, muito versado nas ideiasdo seu seculo, gosava pela cidade de alta reputação, e asbiographias modernas confirmão ainda sua fama passada: osegundo, amigo reconcentrado do estudo, e mais ainda dahumanidade, espirito observador, alma apaixonada pelas