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OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA

OS FIDALGOS

DA
CASA MOURISCA
CHRONICA DA ALDEIA
POR

*JULIO DINIZ*

*VOLUME I*

*PORTO*

TYPOGRAPHIA DO JORNAL DO PORTO
Rua Ferreira Borges, 31

1871

OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA

I

A tradição popular em Portugal, nos assumptos de historia patria, não seremonta além do periodo da dominação arabe nas Hespanhas.

Pouco ou nada sabe o povo de celtiberos, de romanos e de wisigodos. É,porém, entre elle noção corrente que, em outros tempos, fôra este paizhabitado por mouros, e que só á força de cutiladas e de botes de lançaos expulsaram os christãos para as terras da Mourama. Os vultos heroicosde reis e cavalleiros nossos, que se assignalaram nas luctas d'essaépoca, ainda não desappareceram das chronicas oraes, onde vivemilluminados por a mesma poetica luz das xacaras e dos romancesnacionaes; e hoje ainda, nas dansas e jogos que se celebram nos logarespublicos das villas e aldeias, por occasião das principaes solemnidadesdo anno, apraz-se a memoria do povo de recordar os feitos d'aquellestempos historicos por meio de simulados combates de mouros e christãos.

Nos contos narrados em volta da lareira, onde nas longas noites de serãose reune a familia rustica, ou ás rapidas horas d'uma noite de estio, nasoleira da porta, ao auditorio attento que segue com os olhos a lua emsilenciosa carreira por um céo sem estrellas, avulta uma creaçãoextremamente sympathica, a das mouras encantadas, princezasformosissimas que ficaram d'esses remotos tempos na peninsula, em paçosinvisiveis, á espera de quem lhes venha quebrar o captiveiro, soltando apalavra magica.

Falla-se em diversos pontos das nossas provincias, com a seriedade que épropria a uma arreigada crença, de thesouros enterrados, que os mourospor ahi deixaram, na esperança de voltarem um dia a resgatal-os, e jánão tem sido poucas as escavações emprehendidas no ávido intuito de osdescobrir.

Esta mesma noção historica do povo é a que dá logar a um outro frequentefacto. Quando, no centro de qualquer aldeia, se eleva um palacio, umsolar de familia, distincto dos edificios communs por uma qualquerparticularidade architectonica mais saliente, ouvireis no sitiodesignal-o por o nome de Casa Mourisca, e, se não se guarda ahi memoriada sua fundação, a chronica lhe assignará infallivelmente como data alendaria e mysteriosa época dos mouros.

Era o que succedia com o solar dos senhores Negrões de Villar de Corvos,que, em tres leguas em redondo, eram por isso conhecidos pelo nome dosFidalgos da Casa Mourisca.

Não se persuada o leitor de que possuia aquelle solar feiçãopronunciadamente arabe, que justificasse a denominação popular, ou quemãos agarenas houvessem de feito cimentado os alicerces da casa nobredenominada assim. Ás pequenas torres quadradas, que se erguiam, coroadasde ameias, nos quatro angulos do edificio, ao desenho ogival das portase janellas, ás estreitas setteiras abertas nos muros, e finalmente acerto ar de castello feudal, que um dos antepassados d'esta fidalgafamilia tentou dar aos paços de sua residencia senhoril, devêra ella aqualifi

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