ALBERTO PIMENTEL


ENTRE O CAFFÉ E O COGNAC

 

 


 

 

PORTO
IMPRENSA PORTUGUEZA
Rua do Bomjardim, 151

1873

 

 

 

 

ENTRE O CAFFÉ E O COGNAC

 

 

 

 

ALBERTO PIMENTEL


ENTRE O CAFFÉ E O COGNAC

 

 


 

 

PORTO
IMPRENSA PORTUGUEZA
Rua do Bomjardim, 151

1873

 

 

 

 

Ao seu presado amigo

 

Manuel Lopes Martins

 

Offerece

 

 

O author.

 

 

 

 

{VII}

Obrigado a dar folhetim original aos domingos no Primeiro deJaneiro, era ás sextas feiras, entre o caffé e o cognac, que eu, reclinadono espaldar da poltrona, procurava assumpto.

Este livro, em que se grupa a maior parte dos folhetins de sete mezes, foipois meditado entre o caffé e o cognac.

Fica explicado o titulo.

 {VIII}

 {9}

O GABINETE DE CAMILLO

Eu já citei algures estas palavras de Alexandre Dumas pae: «Ha sempre nosmoveis que vos cercam alguma cousa de vós mesmos».[1]

Tão profunda verdade, se carecesse de demonstração, encontral-a-ia nogabinete de Camillo Castello Branco.

É aquelle um templo consagrado unicamente á Arte. Alli tem altar a pintura,a archeologia, a historia natural, e a litteratura. Presente-se que se está nogabinete d'um grande romancista porque se adivinha a historia de cada quadro, anovella de cada movel, a epopêa do tinteiro de metal amarello d'onde ha poucomais de vinte annos tem nascido para gloria das letras portuguezas{10} cerca de cem livros. Tudo alli falla. Ha idillios desaudade suavissima a murmurar ao de cima dos silenciosos companheiros damocidade; ha marcos milliarios que rememoram successivas phases da vida doescriptor. Os verdadeiros amigos de Camillo são aquelles. Só elles guardam osegredo de intimas commoções, que parecem vibrar ainda em novellas escriptas hadoze annos, e que primeiro lhe arrancaram lagrimas a elle do que a nós. Otalento de Camillo é nosso: estamos ha longo tempo familiarisados com elle;tanto o estimamos, que o vamos procurar mal que se annuncia um livro novo. Nóslemos o livro já enroupado em galas de estremada linguagem; mas o seu gabinetelê o esboço da novella tal como lhe sahiu do coração. Nós vemos a estatua; oseu gabinete vê Pigmalião. Quando as lagrimas nos chegam a nós já as sentimosdulcificadas pela amenidade da phrase. Não as vemos; conhecemos-lhes apenas osvestigios. Mas o seu gabinete viu-as. O mesmo é pelo que respeita apersonagens. Nós conhecemos o retrato; o gabinete conheceu o modelo. Camillotem feito a historia de muito homem; só o seu gabinete poderia fazer a historiade Camillo. Nós temos o romancista; o gabinete tem o homem. Ainda mais. Se osmoveis quizessem fallar, revelariam o romance de muito escriptor portuguez, queelles têm conhecido e ouvido em intimas

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