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IDYLLIOS Á BEIRA D’AGUA

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ALBERTO PIMENTEL

Idyllios á beira d’agua

ROMANCE ORIGINAL

(2.ª edição revista pelo auctor)

LISBOA
«A EDITORA»
Conde Barão, 50
1903

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Typ. d’«A EDITORA», Conde Barão, 50


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Prologo da 1.ª edição

Subi em julho d’este anno á montanha umbrosado Bom Jesus do Monte e repousei o meuespirito, d’umas fadigas em que andava trabalhado,á sombra d’aquellas arvores secularesque ou não envelhecem nunca ou remoçamcada noite para verdejar novas galas ao romperda madrugada...

Quando o romeiro crava o seu bordão n’algumrelvoso céspede do ermo sagrado, e sentesubitamente embriagados os ouvidos n’aquellaprimavera inextinguivel chilreada de maviosostrinados, experimenta a influencia beneficad’um elixir mysterioso que se lhe está filtrandono coração, e vae acalmando como por encantamentoas tempestades que lá se revolviammomentos antes. Este dulcissimo consôlo experimentei-oeu e experimentam n’o todos osque, na solidão amena, vão desfadigar-se decanseiras intimas.

Na solidão amena disse eu, e quero demorar-meum momento n’este ponto. A solidão profundamentetriste e silenciosa quer-me parecerum como remedio heroico para organisaçõesrobustas, e só para ellas.

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Para as almas que não podem disputar comestas extremos de coragem, e não saem incolumesd’uma procella, a solidão medonha dosdesertos seria o mesmo que a morte lenta edesesperada d’um criminoso recluso em carcerecellular.

Subi, pois, a montanha e ia procurando coma vista as arvores que já me tinham dado sombraem romagens anteriores, as fontes cujo suspirarcadenciado eu já tinha escutado, e umase outras encontrei, as arvores bracejando asmesmas frondes, as fontes suspirosas comod’antes, e concentrei-me então para vêr a minhaalma retratada no espelho interior.

Mezes antes, á hora em que eu, longe d’alli,sentia fugir-me a vida e a mocidade, e lançavaum como olhar de despedida ás arvores quesacudiam as ultimas folhas, a essa hora, dizia,murmuravam as fontes do Bom Jesus as saudosasqueixas de que me lembrava ainda, tranquillascomo sempre, e diziam os troncos annososda montanha ao outomno que se approximava:

«Amarellece, devasta, anniquila, que não entrarásaqui...»

Fui subindo, subindo e remoçando a cadapasso que dava, a cada momento que fugia.

Demorei-me tres dias na estancia suavissimado Bom Jesus do Monte, que tanto era precisopara lograr um remoçamento completo, e, natarde do segundo dia, afigurou-se-me vêr, adistancia, na alameda da Mãe d’Agua, um homem[7]que me inspirara a maxima sympathiaquando pela primeira vez lhe falei em Braga—opadre Eduardo Valladares.

O leitor, que não exige que o romancista venhaexpôr a face do martyr á luz do sol, paraque todos o conheçam e o apontem, permitte-medecerto este pseudonymo com que me correobrigação de velar a verdadeira personagem domundo real.

Ia o padre Valladares caminhando placidamente,absorto em seus pensamentos, quandocommetti a indiscreção de lhe bater no hombr

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